sexta-feira, 22 de outubro de 2010

De mestre pra mestre - Texto do Jaime Sodre sobre Ederaldo Gentil

Não sei até que ponto o fato relatado no meu último post incentivou a o Mestre Jaime Sodré a escrever esse lindo texto sobre Ederaldo Gentil no Jornal A Tarde de hoje. O fato é que está lá, de mestre pra mestre, impresso no jornal e emocionantemente me citando no enredo.
Segue na íntegra o texto:

Reprodução do Jornal A Tarde - Salvador (Ba) de 22 de outubro de 2010
"Ederaldo,
por gentileza
Jaime Sodré

 “Panela velha é quem faz comida boa”, mas, já me deliciei com tudo aquilo que o grande compositor baiano Ederaldo Gentil fez, quero as mais recentes “pérolas finas”. Se preciso, faria um “abaixo-assinado”, uma “emenda popular” com milhares de assinantes.Um instante maestro Luizão, quero mais Ederaldo.
Encontrei Luizão, sobrinho de Ederaldo, precavido, o tio dera-lhe um cavaquinho intimando-o a entrar no “Clube do Samba”, Luiz guarda o cavaco e assume o rock com o “Cravo Negro” e “Penélope”. Mas não esquece o tio, Cobrei-lhe mais Ederaldo, e com o auxilio luxuoso da erudita Fernanda Monteiro formaram o “Doisemum”, grupo habitante do bom gosto, mandou-me uma excelente gravação da canção “Compadre”, do tio.
Quem é Ederaldo, capitulo máximo da historia da musica brasileira, “UM BAMBA”. Oriundo do quimbundo “mbanba”, na lingua do povo banto, significa muito bom, excelente. “Bambambã e bamba” refere-se no Brasil a sambista virtuoso. Ederaldo nasceu a sete de setembro de 1943, no largo Dois de Julho, um dos filhos de D. Zezé e “Seu” Carlos, competente relojoeiro, oficio transmitido ao sambista. Mudou-se para o Tororó,  reduto do samba e carnavalesco, do Apache, Filhos do Tororó, entre outras. O gosto pelo carnaval fora alimentado pelo pai nos bailes a fantasia. Participara da bateria da escola tomando gosto pelo samba, estimulado por “Seu” Arnaldo presidente. Daí foi para a ala dos compositores, tendo os seus sambas entoados na quadra. A vida não era fácil, arriscou o futebol na posição de meia-esquerda do Guarany, e a treinar no Vitória. A musica falava mais alto, nisso ele era competente. Vencera o concurso municipal do carnaval com a musica “Rio de Lagrimas”, ganhara por três anos. Em 1967 vence na quadra dos Filhos do Tororó com “Dois de Fevereiro” e ouvia seus sambas na boca do povo, afasta-se da escola e compõe samba-enredos para outras. Chegara a hora de tornar-se nacional, entra no espaço da MPB nos anos setenta, através das canções “Berequetê” e “Alô Madrugada” com Edil Pacheco, excelente compositor baiano, na voz de Jair Rodrigues. Aproxima-se de Alcione, Eliana Pittman, Leny Andrade o Conjunto Nosso Samba.
Em 1972 vai para São Paulo na tentativa de gravar um disco próprio e participar de programas de Tvs, sem sucesso, retorna a Bahia, acolhido pela família e amigos, reassume o oficio herdado do pai, e reaproxima-se da sua escola de Samba, faz as pazes e premia a Bahia com um sensacional samba-enredo, “In-Lê-In-Lá”, em homenagem aos cinqüenta anos de Mãe Menininha, em parceria com Anísio Felix,  samba que mais tarde gravaria, abandono a produção de sambas nesta categoria.
A gravadora Chantecler, reconhecendo o seu valor, o convoca a São Paulo, gravando um compacto simples com a genial e filosófica “O Ouro e a Madeira” (O ouro afunda no mar, madeira fica por cima, ostra nasce do lodo, gerando pérolas finas) e “Triste Samba”. A primeira recebe uma outra gravação, pelo grupo Nossa Samba, acompanhante de Clara Nunes, como diria hoje “bombou”.
Sucesso nacional, nova gravação com a mesma gravadora, deste feita o seu primeiro LP, em 1975 surge o “Samba Canto Livre de Um Povo” este poderia hoje, ser editado em CD. Lança outro LP “Pequenino”, numa esmerada produção com o acompanhamento de músicos e maestros primorosos. Carreira segue consagrada, retorna a Salvador, aos seus show, alguns acompanhei na bateria. Em setenta nasce com Batatinha o show “O Samba Nasceu Na Bahia”, glorioso.
Apesar da qualidade da sua obra, fica anos sem gravar e resolve enfrentar gravando um disco independente com ajuda de amigos, chamado “Identidade”, generoso, na contra capa do disco cita todos os colaboradores.
Aos poucos, esquecido pela mídia e gravadoras, passeava pelo Pelourinho, ouvindo na voz de outros a sua música, ao tempo em que não o reconheciam. Desanimado, recolhe-se na Vila Laura. Vieram as homenagens, mais compositor maior permanece recolhido no carinho dos seus. Ederaldo, O Genio, por gentileza, o Brasil te convoca, para perfumar a sonoridade nacional."

Um comentário:

Cássio Ruã disse...

Ola!

Me chamo Cassio Rua, tenho 24 anos e depois tomar conhecimento da morte de Ederaldo, apesar de conhecer suas canções, nunca me aprofundei muito em conhecer sua historia ou mais sobre ele, sinto até vergonha em dizer isso, considerando que nos seres humanos temos o malfazer de tomarmos essa atitulde quando alguem morre., mas quero deixar claro que esse nao na totalidade o meu caso, levando em conta a minha idade, nao pude acompanhar esses mestres ao longo dos anos, mas gosto muito de musica boa e Ederaldo sabia muito bem o que era isso, assim como fazia muito bem isso.
Sinto saber que ele tinha depressao, so fiquei sabendo tambem depois do noticiario da morte dele, enfim escrevo essa mensagem pra compartilhar o meu pesar em relação ao falecimento dele.
Desejo que ele fique em paz!

Um Abraço!