sábado, 27 de junho de 2009

Michael, eu te odiei uns dias!

Michael dançando. Foto: Luis Pereira

Eu era apaixonado por uma professora da escola. Daquelas paixões clichês de pré-adolescente em sala de aula. Acredito que ela não desconfiava de nada, até que um belo dia resolvi escrever numa prova final tudo o que eu sentia por ela.
Logo após a prova entramos em férias e a última notícia que tive da moça foi um 9,2 em caneta azul na dita prova, a qual eu não tinha respondido a uma questão da matéria sequer, apenas me declarei apaixonado. E, diante da nota muito boa, comecei a achar que teria alguma chance. Ela devia ser uns dez anos mais velha do que eu.
No meio das férias, havia um baile em Petrolina no bombado clube do Círculo Militar. Devia ter entre dez ou doze anos, mas já dirigia e frequentava boates (no interior da Bahia era assim).
Chegando lá dei de cara com a professora. Fiquei sem jeito, sem saber o que falar, perguntei de que música ela gostava.

- Eu amo Michael Jackson! Respondeu eufórica.
Putz, que merda. pensei.

Eu estava numa fase de ouvir metal, e abominava o “pop”. Ainda não havia saido o "Thriller", donde Eddie Van Halen fez aquele maravilhoso solo de guitarra na “Beat it” que me fez ouvir centenas de vezes a música, que por osmose, me converteu num fã do Michael.
Lá em Juazeiro tinha um cara, chamava-se Carlos. Era um bonito negro, de nariz fino que lembrava o Michael pós-primeira plástica.
De repente, começou a tocar na pista o hit "Don't Stop 'Til You Get Enough". Carlos logo começou a dançar, os olhos da professora brilharam mais que o globo de espelhos que girava no teto. Não deu noutra, ela acabou ficando com o cara.
Anos mais tarde eu estava com Tamima (que confessou também uma paixão por M.J.), nos movendo para conseguir crachás de produção para a gravação do clipe do cara no Pelourinho.
O Pelô estava todo interditado, a caravana de Michael veio em 06 vans. Na segunda van, havia um Michael (de luva, chapéu e tudo) que acenava pela janela do carro para a multidão nos arredores. Mas era um sósia, o verdadeiro estava na quarta van, escondido e “protegido”.
Como tínhamos a credencial, ficamos circulando livremente. Teve um momento em que ele estava de bobeira, olhando pro nada – enquanto o sósia ficava no sol, pro pessoal das câmeras ajustarem os detalhes. Naquele momento eu lembrei da professora. Fui me aproximando dele aos pouquinhos, meio que de lado, cheguei bem perto. Fiquei observando as manchas nos braços, a mão pequena e o jeito tímido. Ele chegou a me ver e sorrir, quando fui tentar trocar alguma palavra, o segurança dele apareceu como mágica e foi logo me alertando:

- Não fale com ele, não tire fotos dele!
- Tudo bem. Respondi.

Depois, quando os seguranças estavam mais preocupados com uma parte dos moradores do Pelourinho que conseguiam chegar um pouco mais perto das filmagens, tirei umas vinte fotos da gravação. Um número até grande para época, já que não se sonhava com maquina digital.
Consegui falar com Spike Lee, trocamos um “ta quente né?”
Coincidência ou não, agora em junho, mês da morte de Michael, reencontrei, duas décadas depois, Carlos num centro médico em Salvador. Ele agora é representante de laboratório farmacêutico, quase pergunto se ele vendia morfina.

Spike Lee e Michael Jackson: Foto Luis Pereira