quarta-feira, 29 de abril de 2009

Joãozinho Simpatia.


Era o ano de 2000, eu estava no aeroporto do Galeão, com a Penélope (banda que toquei por oito anos) aguardando a hora de entrar num voo pra Porto Alegre. Quando alguém da equipe anunciou:

- Olha lá o João Gilberto!

Não era novidade que eu sempre tive orgulho de falar da minha admiração e de alguma forma, "ligação", já que o cara era da minha cidade e conhecido do meu irmão mais velho.

Ai, num tom de sacanagem, alguém da banda falou:

- Não vai falar com o seu amigo não Luisão?

Todos riram.

Foi ai que me dei conta que realmente era ele mesmo, João Gilberto, o mito em pessoa. Deu um frio na barriga, ainda maior do que eu sempre sinto ao entrar num avião.

Lucy Vianna era nossa empresária na época. Ela era inglesa. Pra ela, quando eu falava que João Gilberto havia nascido na minha rua, três casas depois pra ser exato, e que eu o via por lá quando eu era criança. Equivaleria a ela contar o mesmo pra mim, tendo como personagem o Paul McCartney. Eu também não acreditaria.

Ela também engrossou o coro dos que queriam me empurrar até o cara:

– Vai lá lulu!

Com um olho na brincadeira e outro no João Gilberto.

Ele estava na sala de embarque, a uns dez metros de nós, lendo uma revista, sentado na última fileira. Haviam várias cadeiras vazias, perto dele só o violão ao lado dos pés e uma mulher com cara de vigilante da paz. Mas eu não podia deixar todos rirem da minha cara daquela forma, além do que, falar com João Gilberto não seria uma má idéia - poderia ser uma péssima! (claro que pensei isso também)
Mesmo assim, peguei um pouco da coragem e da tranquilidade que São Rivotril me dava em aeroportos e saí em direção ao cara.
Foram alguns dos passos mais longos da minha vida. Durante o curto caminho, eu ia pensando: Cacete, tô fudido, que zorra é que vou falar?

Cheguei na frente dele e parei. Ele fez de conta que não me viu. Então falei muito baixinho:

- Seu João!? Ei, seu João?

Ele desviou a revista do rosto, e me olhou franzindo a testa.

Respirei fundo e falei:

- Seu João, desculpa te incomodar. Sou Luis, de Juazeiro, irmão de Tatau, fui aluno de Vivinha (irmã dele que tinha uma escolinha na nossa rua). Só vim dar um oi.. Antes deu acabar meu texto decorado ao longo dos passos, João Gilberto largou a revista, emitiu um hôoo.. acompanhando um sorriso, levantou-se e me deu um abraço. Daí passou a me fazer o monte de perguntas:

- Nossa, você é o mais novo?
- Como vai o Dr Humberto? (meu pai) e sua mãe?

- Você esta indo pra Juazeiro? Seu irmão nunca mais me ligou...
E eu ali petrificado. A única coisa que eu consegui falar, em resposta a mais perguntas dele, foi que – Sim! Eu morava no Rio.

Ele prontamente pegou uma caneta, um pedaço de papel, anotou um telefone e disse:

- Me Ligue!

Todos da banda e equipe ficaram olhando sem acreditar.
Deu a chamada pro nosso embarque, me despedi dele e fui em direção aos meus parceiros. Voltei ainda mais inflado do que normalmente. Lucy já estava ao celular com Herbert Vianna, (marido dela) contando o que acabava de testemunhar.
Flavão, nosso produtor, 100% carioca, falou com aquele sotacão:

- Aê muleque, tirou onda mermão. O cara te conhece mermo! O que é isso ai em tua mão, um autografo?

- Não, o telefone dele! Respondi, com o olhar de quem parecia não mais temer o voo, afinal eu já estava nas nuvens.

Jonny Greenwood - no star wars!




Eu e Jonny Greenwood (Radiohead)

Rio, março 2009.

Cheguei cedo pra acompanhar a passagem de som. mas não tão cedo a ponto de ver quase um ensaio geral que o radiohead resolveu fazer. Os caras tocaram quase o show inteiro antes do show valendo.
"caramba, os caras não queriam sair do palco", me disse Wiliam, tecnico de som do los hermanos. E eu perdi isso? Perdi! Mas o dia estava só começando.
Beleza, vou apreciar o set de instrumentos dos caras. Tudo é realmente muito fantástico, até em silêncio e desligado. Fiquei fazendo umas coisa la pelo back stage. Uma música clássica tocava alto em um dos camarins. Mais tarde um pouco, aparece o Jonny Greenwood. Timidamente cheguei no cara - que é muito simpático - e tentei falar da importancia musical dele na minha vida e na de Fernanda. Ele sorriu e foi bem receptivo. Falei também que Fernanda tocava em orquestra lá na Bahia (além da genialidade do radiohead, Greenwood toca viola e escreve pra Orquestra Sinfônica da BBC)
Dei a ele o disquinho do Dois em Um (da pra ver segurando na foto) e ele se mostrou bem curioso.
Tava na hora de deixar o cara em paz. Ai me lembrei da camera. Perguntei se podiamos tirar uma foto 'preu mostrar a Fernanda..' e ele disse que claro. Tive a cara de pau de pedir ao Colin Greenwood - baixista e irmão do Jonny, pra tirar a nossa foto.

Antes, olhando os equipamentos, eu vi uma coisa curiosa num dos amplificadores do Jonny. Tinha um adesivo escrito "no star wars". Interpretei aquilo como um sinal de não ao estrelismo dentro da banda e um lembrete pra que não haja uma guerra de egos entre eles. Na hora da foto, me toquei que estava com a camisa presenteada do meu amigo Luna, que me pediu pra usar no show e assim fiz. Ela tem escrito "Ringo star wars".
Enfim, estrelas a parte, ca estou com o gênio do arco iris.

E sobre o show? Não ha palavras pra descrever a melhor combinação som/luz/banda que já ví na minha vida de até então.


Esse case aí leva umas coisas curiosas: squeezes de àgua, capacetes (daqueles de construção/obras), protetores auditivos, luvas. um monte de treco pra proteger a equipe deles. Detalhe, tudo leva o nome radiohead. Ah, como eu quis pegar uma lembrancinha daquelas pra mim... Mas os seguranças também levam o nome radiohead.